Mais uma coluna sobre as rivalidades idiotas entre o povo
brasileiro. Mais uma “guerra do bairrismo” no meu Facebook...e nada, NADA muda,
nesse sentido, pelas ruas e pelas redes brasileiras.
Minha mãe sabe que acabei ficando com um pouco de “raiva dos
cariocas”, depois que vim morar no Rio de Janeiro. Ri muito, fazendo piadas de
minha situação, porque, coincidentemente ou não, quando em São Paulo, eu
cheguei a ganhar o apelido de “rainha dos cariocas”, tantos eram os presentes
em minha vida de forma sempre boa.
Mas o Brasil é um paisinho triste nesse sentido!
Dificilmente alguém que, depois de “velho”, muda sua residência para um Estado
vizinho, ou região diferente, consegue se sentir “em casa”. O brasileiro é
tomado por preconceitos! Disso nós herdamos muito! O brasileiro consegue sofrer
mais preconceito dentro de casa do que em outro país!
Mamãe, sabida de minha situação, havia lido (e eu não) no
jornal “Folha de São Paulo” impresso, o que eu rapidamente achei na versão
online. Uma coluna de Antonio Prata, sobre “paulistas x cariocas’. Li, ri, e
achei de colar no meu mural do Facebook, porque eu me identifiquei com aquilo.
Pronto! Mais uma polêmica e mágoas de lá e cá!
O texto de Antonio Prata, colo aqui:
“06/02/2013 - 03h00
Cliente paulista, garçom carioca
DE SÃO PAULO
Veja, aí estão eles, a bailar seu
diabólico "pas de deux": sentado, ao fundo do restaurante, o cliente
paulista acena, assovia, agita os braços num agônico polichinelo; encostado à
parede, marmóreo e impassível, o garçom carioca o ignora com redobrada atenção.
O paulista estrebucha: "Amigô?!", "Chefê?!",
"Parceirô?!"; o garçom boceja, tira um fiapo do ombro, olha pro
lustre.
Eu disse "cliente paulista",
percebo a redundância: o paulista é sempre cliente. Sem querer estereo-tipar,
mas já estereotipando: trata-se de um ser cujas interações sociais terminam,
99% das vezes, diante da pergunta "débito ou crédito?". Um ser que
tem o "direito do consumidor" em tão alta conta que quase transformou
um de seus maiores prosélitos em prefeito da capital. Como pode ele entender
que o fato de estar pagando não garantirá a atenção do garçom carioca? Como
pode o ignóbil paulista, nascido e criado na crua batalha entre burgueses e
proletários, compreender o discreto charme da aristocracia?
Sim, meu caro paulista: o garçom carioca
é antes de tudo um nobre. Um antigo membro da corte que esconde, por trás da
carapinha entediada, do descaso e da gravata borboleta, saudades do imperador.
Faz sentido. Para onde você acha que foram os condes, duques e viscondes no dia
16 de novembro de 1889 pela manhã? Voltaram a Portugal? Fugiram pros Açores?
Fundaram um reino minúsculo, espécie de Liechtenstein ultramarino, lá pros
lados de Nova Iguaçu? Nada disso: arrumaram emprego no Bar Lagoa e no
Villarino, no Jobi e no Nova Capela, no Braseiro e no Fiorentina.
O pobre paulista, com sua ainda mais
pobre visão hierárquica do mundo, imagina que os aristocratas ressentiram-se
com a nova posição. De maneira nenhuma, pois se deixaram de bajular os
príncipes e princesas do século 19, passaram a servir reis e rainhas do 20:
levaram gim tônicas para Vinicius e caipirinhas para Sinatra, uísques para Tom
e leites para Nelson, receberam gordas gorjetas de Orson Welles e autógrafos de
Rockfeller; ainda hoje falam de futebol com Roberto Carlos e ouvem conselhos de
João Gilberto. Continuam tão nobres quanto sempre foram, seu orgulho permanece
intacto.
Até que chega esse paulista, esse homem
bidimensional e sem poesia, de camisa polo, meia soquete e sapatênis, achando
que o jacarezinho de sua Lacoste é um crachá universal, capaz de abrir todas as
portas. Ah, paulishhhhta otááário, nenhum emblema preencherá o vazio que
carregas no peito -pensa o garçom, antes de conduzi-lo à última mesa do
restaurante, a caminho do banheiro, e ali esquecê-lo para todo o sempre.
Veja, veja como ele se debate, como se
debaterá amanhã, depois de amanhã e até a Quarta-Feira de Cinzas, maldizendo a
Guanabara, saudoso das várzeas do Tietê, onde a desigualdade é tão mais
organizada: "Amigô, o bife era mal passado!", "Chefê, a
caipirinha de saquê era sem açúcar!", "Ô, companheirô, faz meia hora
que eu cheguei, dava pra ver um cardápio?!". Acalme-se, conterrâneo.
Acostume-se com sua existência plebeia. O garçom carioca não está aí para
servi-lo, você é que foi ao restaurante para homenageá-lo. E quer saber? Ele
tem toda a razão.
antonioprata.folha@uol.com.br
@antonioprata”
@antonioprata”
Aqui, o link: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/antonioprata/1226582-cliente-paulista-garcom-carioca.shtml
No meu mural, amigos paulistas concordando que sofrem com o
serviço no Rio, ou dizendo que vieram ao Rio e o serviço está ótimo, ou
compartilhando sem dizer muito, ou o comentário mais frequente: eu reclamo
demais, eu reclamo “de barriga cheia”. Normal. Mas teve também o amigo que
compartilhou acusando o paulista de praticar “Apartheid social” no Rio de
Janeiro, e ser maltratado por isso.
Ahhh!! Então, quando ele postou assim, o dele explodiu! Uma
série de “curtidas” (todas, de cariocas), comentários de que o garçom é nobre
mesmo (ou atende mal), ou que o paulistano é nojento mesmo...e por aí foi! O
que não aconteceu, em momento algum, foi alguém admitir que TODOS têm culpa
pelo desconforto de TODOS! Incluindo eu mesma!
Minha culpa não é por ter destratado alguém por conta de
origem um dia na vida, não! Mas eu também tenho lá meus preconceitos! Ah, se
tenho! E se irritada, consigo dizer horrores e ser muito preconceituosa! Mas eu
percebi que, pelo menos comigo, a “guerra” aflora apenas quando estou com
raiva, quando me sinto agredida! E não agredir não é a melhor forma de evitar
ser agredido (não impede, mas diminui!)? Comigo funcionou! Agrido menos, escuto
menos!
Mas eu vi vários lados de uma mesma moeda. Nascida na
capital do Estado de São Paulo, minha família era toda diferente. Meus pais e
irmãos eram do interior do Estado. Só eu era nascida e criada na capital. Vi,
nos meus meios em São Paulo, preconceito besta de paulistano contra nordestino.
Achava triste! Mas vi, sim! Não vou mentir nem “puxar a brasa para minha
sardinha”. Eu mesma me peguei pensando, várias vezes, quando vi agressões
contra a cidade, como patrimônio público depredado ou gente jogando lixo na
rua, de maneira preconceituosíssima, como “isso foi feito por gente que não
nasceu aqui! Quem nasce aqui como eu não é capaz, no meio de tanto amor pela
cidade, de maltratar dessa forma!”. E onde é que o pensamento estava errado? Na
palavrinha “eu”! Eu sou eu! E não posso, absolutamente, parametrizar nem o
amor, nem a educação dos outros, pelo que eu tenho e uso! Muitas vezes,
obviamente, as tristezas que eu via eram produzidas por paulistanos, da gema,
da clara e do ovo todinho, sim! E eu fui aprendendo devagar.
Para entrar na fase final como em todo aprendizado, essa é a
mais difícil que eu venho vivendo e não há previsão de término! Hoje eu virei “alvo”.
E se antes eu podia aprender vendo o que não gostava que os OUTROS fizessem com
os OUTROS, hoje eu fico triste por aquilo que os outros fazem é comigo! Sou
humana, pequenina como a maioria de nós, então, doeu em mim, dessa vez doeu
mais!
Há seis belos anos eu aceitei o convite do homem que é o
amor da minha vida, e carioca, para largar a minha atribulada vida em São Paulo
e as pontes aéreas e rodoviárias de todos os finais de semana de nosso namoro,
e vir viver com ele no Rio de Janeiro.
De todas as guerras “bairristas” brasileiras, a mais famosa,
acentuada e incômoda, é a produzida por paulistas e cariocas. Mais
precisamente, paulistANOS e cariocas. Os interiores dos dois Estados são um
pouco mais “neutros” nessa guerra.
Meu amigo que compartilhou o texto no Facebook dele e obteve
as curtidas dos cariocas, é um ex-morador da capital de São Paulo, onde nos
conhecemos e nossa grande amizade nasceu! Sou obrigada a discordar do maior
argumento que ele costuma utilizar nessas discussões: ele pode ter sofrido
muito pela falta da praia, pelos horários diferentes, pelo estilo de vida
diferente, por ter que se locomover por distâncias maiores e mais
congestionadas...mas eu acompanhei muito de perto todos os anos que este meu
amigo morou em São Paulo, com todo seu acentuado sotaque carioca. Afirmo com
propriedade: ele JAMAIS sofreu, em São Paulo, alguns tipos de agressão que eu
vivo e venho vivendo com meu acentuado sotaque paulistano, no Rio de Janeiro.
Não porque o paulistano ou o carioca sejam melhores ou mais “educados”, não!
Apenas uma questão de diferença comportamental, generalizando, dos habitantes
de uma cidade ou da outra. O meu amigo, quando em São Paulo, falava mal dos
paulistanos e de São Paulo em TODAS as oportunidades que encontrava, mas jamais
conseguiu uma briga, discussão, ou alguém que levantasse a voz para ele em
defesa do povo ou território que ele fazia questão de atacar. Enquanto a
contrapartida, eu no Rio de Janeiro, é bem diferente! Por uma questão de “tradição
dos hábitos”, basta que alguém com um pouco mais de raiva da situação dessa
guerra ridícula, que seja carioca e reconheça meu sotaque, enxergar em mim sua
própria raiva personificada e eu escuto a clássica, frequentemente: “Não
SUPORRRRTO paulista!”. De TODAS as vezes, mesmo com meu jeitinho briguento, eu
estava cordial e inocente em TODAS! Mereci?
Mereci! Sou brasileira, imbecil também e estou atolada nessa
guerra imbecil até o pescoço! Se eu pensei aquela bobagem que escrevi acima um
dia na vida, hoje eu mereci ser maltratada por abrir a boca exibindo apenas um
sotaque característico de algum lugar!
Senhor Luiz, meu amigo nascido num Estado do nordeste, comentou comigo
na portaria do prédio, num dia desses: “Ninguém gosta de nordestino”. Respondi
a ele, rindo: “Sr. Luiz! Hoje o senhor está até melhor que eu! Se até ontem eu
pensava que ninguém gostava de nordestino, hoje eu percebo que ninguém gosta é
de PAULISTA, isso sim!” e continuei rindo. Ele concordou enfaticamente! Disse
que eu tinha razão! De paulista é que ninguém gosta, mesmo!
Então, diz o meu amigo já citado que o paulistano não gosta
dos outros, que é arrogante, que se acha superior. Será que ele está errado? O
que eu via era o paulistano ignorando as origens das pessoas, ou apontando quem
era “forasteiro”? Não era com carioca?
Mas acontecia? Eu vi muita coisa diferente disso?
Resultado é que ninguém tem defesa! E eu, que não atacava,
sofri ataques por traumas causados e carregados por outras pessoas, até que
acabei tendo crises de ataques também. A corrente do ódio é um vírus potente!
Contagia demais! Só se parte com reflexão profunda, ou sofrimento! Triste de
novo!
Vamos reagir, brasileiro! Nosso inimigo é o mal, o crime, a
destruição do que temos de mais humano! Não o sotaque, a origem, o cabelo ou a
pele do vizinho de mesa de bar! Portugal se foi, os demais países também!
Sobramos nós, um de cada tipo, mas brasileiros somente! Com os mesmos problemas
e mágoas, quase todos!
Com solidariedade brasileira,
Filhinha de Papai
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