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sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

A guerra inútil que contamina mais que vírus da gripe! Coisa desnecessária!


Mais uma coluna sobre as rivalidades idiotas entre o povo brasileiro. Mais uma “guerra do bairrismo” no meu Facebook...e nada, NADA muda, nesse sentido, pelas ruas e pelas redes brasileiras.

Minha mãe sabe que acabei ficando com um pouco de “raiva dos cariocas”, depois que vim morar no Rio de Janeiro. Ri muito, fazendo piadas de minha situação, porque, coincidentemente ou não, quando em São Paulo, eu cheguei a ganhar o apelido de “rainha dos cariocas”, tantos eram os presentes em minha vida de forma sempre boa.

Mas o Brasil é um paisinho triste nesse sentido! Dificilmente alguém que, depois de “velho”, muda sua residência para um Estado vizinho, ou região diferente, consegue se sentir “em casa”. O brasileiro é tomado por preconceitos! Disso nós herdamos muito! O brasileiro consegue sofrer mais preconceito dentro de casa do que em outro país!

Mamãe, sabida de minha situação, havia lido (e eu não) no jornal “Folha de São Paulo” impresso, o que eu rapidamente achei na versão online. Uma coluna de Antonio Prata, sobre “paulistas x cariocas’. Li, ri, e achei de colar no meu mural do Facebook, porque eu me identifiquei com aquilo. Pronto! Mais uma polêmica e mágoas de lá e cá!

O texto de Antonio Prata, colo aqui:
“06/02/2013 - 03h00
Cliente paulista, garçom carioca
DE SÃO PAULO
Veja, aí estão eles, a bailar seu diabólico "pas de deux": sentado, ao fundo do restaurante, o cliente paulista acena, assovia, agita os braços num agônico polichinelo; encostado à parede, marmóreo e impassível, o garçom carioca o ignora com redobrada atenção. O paulista estrebucha: "Amigô?!", "Chefê?!", "Parceirô?!"; o garçom boceja, tira um fiapo do ombro, olha pro lustre.
Eu disse "cliente paulista", percebo a redundância: o paulista é sempre cliente. Sem querer estereo-tipar, mas já estereotipando: trata-se de um ser cujas interações sociais terminam, 99% das vezes, diante da pergunta "débito ou crédito?". Um ser que tem o "direito do consumidor" em tão alta conta que quase transformou um de seus maiores prosélitos em prefeito da capital. Como pode ele entender que o fato de estar pagando não garantirá a atenção do garçom carioca? Como pode o ignóbil paulista, nascido e criado na crua batalha entre burgueses e proletários, compreender o discreto charme da aristocracia?
Sim, meu caro paulista: o garçom carioca é antes de tudo um nobre. Um antigo membro da corte que esconde, por trás da carapinha entediada, do descaso e da gravata borboleta, saudades do imperador. Faz sentido. Para onde você acha que foram os condes, duques e viscondes no dia 16 de novembro de 1889 pela manhã? Voltaram a Portugal? Fugiram pros Açores? Fundaram um reino minúsculo, espécie de Liechtenstein ultramarino, lá pros lados de Nova Iguaçu? Nada disso: arrumaram emprego no Bar Lagoa e no Villarino, no Jobi e no Nova Capela, no Braseiro e no Fiorentina.
O pobre paulista, com sua ainda mais pobre visão hierárquica do mundo, imagina que os aristocratas ressentiram-se com a nova posição. De maneira nenhuma, pois se deixaram de bajular os príncipes e princesas do século 19, passaram a servir reis e rainhas do 20: levaram gim tônicas para Vinicius e caipirinhas para Sinatra, uísques para Tom e leites para Nelson, receberam gordas gorjetas de Orson Welles e autógrafos de Rockfeller; ainda hoje falam de futebol com Roberto Carlos e ouvem conselhos de João Gilberto. Continuam tão nobres quanto sempre foram, seu orgulho permanece intacto.
Até que chega esse paulista, esse homem bidimensional e sem poesia, de camisa polo, meia soquete e sapatênis, achando que o jacarezinho de sua Lacoste é um crachá universal, capaz de abrir todas as portas. Ah, paulishhhhta otááário, nenhum emblema preencherá o vazio que carregas no peito -pensa o garçom, antes de conduzi-lo à última mesa do restaurante, a caminho do banheiro, e ali esquecê-lo para todo o sempre.
Veja, veja como ele se debate, como se debaterá amanhã, depois de amanhã e até a Quarta-Feira de Cinzas, maldizendo a Guanabara, saudoso das várzeas do Tietê, onde a desigualdade é tão mais organizada: "Amigô, o bife era mal passado!", "Chefê, a caipirinha de saquê era sem açúcar!", "Ô, companheirô, faz meia hora que eu cheguei, dava pra ver um cardápio?!". Acalme-se, conterrâneo. Acostume-se com sua existência plebeia. O garçom carioca não está aí para servi-lo, você é que foi ao restaurante para homenageá-lo. E quer saber? Ele tem toda a razão.
antonioprata.folha@uol.com.br
@antonioprata”


No meu mural, amigos paulistas concordando que sofrem com o serviço no Rio, ou dizendo que vieram ao Rio e o serviço está ótimo, ou compartilhando sem dizer muito, ou o comentário mais frequente: eu reclamo demais, eu reclamo “de barriga cheia”. Normal. Mas teve também o amigo que compartilhou acusando o paulista de praticar “Apartheid social” no Rio de Janeiro, e ser maltratado por isso.
Ahhh!! Então, quando ele postou assim, o dele explodiu! Uma série de “curtidas” (todas, de cariocas), comentários de que o garçom é nobre mesmo (ou atende mal), ou que o paulistano é nojento mesmo...e por aí foi! O que não aconteceu, em momento algum, foi alguém admitir que TODOS têm culpa pelo desconforto de TODOS! Incluindo eu mesma!

Minha culpa não é por ter destratado alguém por conta de origem um dia na vida, não! Mas eu também tenho lá meus preconceitos! Ah, se tenho! E se irritada, consigo dizer horrores e ser muito preconceituosa! Mas eu percebi que, pelo menos comigo, a “guerra” aflora apenas quando estou com raiva, quando me sinto agredida! E não agredir não é a melhor forma de evitar ser agredido (não impede, mas diminui!)? Comigo funcionou! Agrido menos, escuto menos!

Mas eu vi vários lados de uma mesma moeda. Nascida na capital do Estado de São Paulo, minha família era toda diferente. Meus pais e irmãos eram do interior do Estado. Só eu era nascida e criada na capital. Vi, nos meus meios em São Paulo, preconceito besta de paulistano contra nordestino. Achava triste! Mas vi, sim! Não vou mentir nem “puxar a brasa para minha sardinha”. Eu mesma me peguei pensando, várias vezes, quando vi agressões contra a cidade, como patrimônio público depredado ou gente jogando lixo na rua, de maneira preconceituosíssima, como “isso foi feito por gente que não nasceu aqui! Quem nasce aqui como eu não é capaz, no meio de tanto amor pela cidade, de maltratar dessa forma!”. E onde é que o pensamento estava errado? Na palavrinha “eu”! Eu sou eu! E não posso, absolutamente, parametrizar nem o amor, nem a educação dos outros, pelo que eu tenho e uso! Muitas vezes, obviamente, as tristezas que eu via eram produzidas por paulistanos, da gema, da clara e do ovo todinho, sim! E eu fui aprendendo devagar.

Para entrar na fase final como em todo aprendizado, essa é a mais difícil que eu venho vivendo e não há previsão de término! Hoje eu virei “alvo”. E se antes eu podia aprender vendo o que não gostava que os OUTROS fizessem com os OUTROS, hoje eu fico triste por aquilo que os outros fazem é comigo! Sou humana, pequenina como a maioria de nós, então, doeu em mim, dessa vez doeu mais!
Há seis belos anos eu aceitei o convite do homem que é o amor da minha vida, e carioca, para largar a minha atribulada vida em São Paulo e as pontes aéreas e rodoviárias de todos os finais de semana de nosso namoro, e vir viver com ele no Rio de Janeiro.

De todas as guerras “bairristas” brasileiras, a mais famosa, acentuada e incômoda, é a produzida por paulistas e cariocas. Mais precisamente, paulistANOS e cariocas. Os interiores dos dois Estados são um pouco mais “neutros” nessa guerra.

Meu amigo que compartilhou o texto no Facebook dele e obteve as curtidas dos cariocas, é um ex-morador da capital de São Paulo, onde nos conhecemos e nossa grande amizade nasceu! Sou obrigada a discordar do maior argumento que ele costuma utilizar nessas discussões: ele pode ter sofrido muito pela falta da praia, pelos horários diferentes, pelo estilo de vida diferente, por ter que se locomover por distâncias maiores e mais congestionadas...mas eu acompanhei muito de perto todos os anos que este meu amigo morou em São Paulo, com todo seu acentuado sotaque carioca. Afirmo com propriedade: ele JAMAIS sofreu, em São Paulo, alguns tipos de agressão que eu vivo e venho vivendo com meu acentuado sotaque paulistano, no Rio de Janeiro. Não porque o paulistano ou o carioca sejam melhores ou mais “educados”, não! Apenas uma questão de diferença comportamental, generalizando, dos habitantes de uma cidade ou da outra. O meu amigo, quando em São Paulo, falava mal dos paulistanos e de São Paulo em TODAS as oportunidades que encontrava, mas jamais conseguiu uma briga, discussão, ou alguém que levantasse a voz para ele em defesa do povo ou território que ele fazia questão de atacar. Enquanto a contrapartida, eu no Rio de Janeiro, é bem diferente! Por uma questão de “tradição dos hábitos”, basta que alguém com um pouco mais de raiva da situação dessa guerra ridícula, que seja carioca e reconheça meu sotaque, enxergar em mim sua própria raiva personificada e eu escuto a clássica, frequentemente: “Não SUPORRRRTO paulista!”. De TODAS as vezes, mesmo com meu jeitinho briguento, eu estava cordial e inocente em TODAS! Mereci?

Mereci! Sou brasileira, imbecil também e estou atolada nessa guerra imbecil até o pescoço! Se eu pensei aquela bobagem que escrevi acima um dia na vida, hoje eu mereci ser maltratada por abrir a boca exibindo apenas um sotaque característico de algum lugar!

Senhor Luiz, meu amigo nascido num Estado do nordeste, comentou comigo na portaria do prédio, num dia desses: “Ninguém gosta de nordestino”. Respondi a ele, rindo: “Sr. Luiz! Hoje o senhor está até melhor que eu! Se até ontem eu pensava que ninguém gostava de nordestino, hoje eu percebo que ninguém gosta é de PAULISTA, isso sim!” e continuei rindo. Ele concordou enfaticamente! Disse que eu tinha razão! De paulista é que ninguém gosta, mesmo!

Então, diz o meu amigo já citado que o paulistano não gosta dos outros, que é arrogante, que se acha superior. Será que ele está errado? O que eu via era o paulistano ignorando as origens das pessoas, ou apontando quem era “forasteiro”?  Não era com carioca? Mas acontecia? Eu vi muita coisa diferente disso?

Resultado é que ninguém tem defesa! E eu, que não atacava, sofri ataques por traumas causados e carregados por outras pessoas, até que acabei tendo crises de ataques também. A corrente do ódio é um vírus potente! Contagia demais! Só se parte com reflexão profunda, ou sofrimento! Triste de novo!

Vamos reagir, brasileiro! Nosso inimigo é o mal, o crime, a destruição do que temos de mais humano! Não o sotaque, a origem, o cabelo ou a pele do vizinho de mesa de bar! Portugal se foi, os demais países também! Sobramos nós, um de cada tipo, mas brasileiros somente! Com os mesmos problemas e mágoas, quase todos!

Com solidariedade brasileira,

Filhinha de Papai

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