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quarta-feira, 12 de junho de 2013

Perdoa, mãe?

Mãe, me perdoa, mas eu não quero mais voltar!

Mãe, por favor, compreenda que não se trata, absolutamente, de falta de amor por você, pelos meus irmãos lindos que você me deu, pela nossa família que é divina...não, mãe! Eu juro que não é falta de amor! Eu também sei que um dia eu tentei ir embora, me arrependi e foi lindo demais encontrar vocês na volta de faixa e flores nos braços, os sorrisos felizes e os corações para me oferecer! Eu nunca vou esquecer de tudo isso e eu sempre vou sentir falta de vocês todos os dias!

Mas mãe, me perdoa por não conseguir mais! Eu sei que você não queria isso para mim! Você me criou para aguentar, avisando inclusive que a vida não ia ser um passeio no parque o tempo todo. Eu estava e estou preparada para aguentar, sim! Mas você também me criou para enfrentar o mundo todo, e do todo do mundo que eu conheci, eu sempre quis voltar. Qualquer mundo que eu conhecesse não poderia ser melhor que a minha pátria, que a cultura que eu absorvi com sede, que o carinho e amor que sempre encontrei por aqui. Nada podia ser mais agradável que isso. O mundo tinha benefícios a oferecer, mas o resto do mundo não me oferecia uma pátria minha! Você me ensinou, também, sobre esse apego à pátria.

Perdoa, mãe, por favor, porque para odiar o meu país você não me criou! Você brigou com o colégio porque eu fiquei doente naquele dia daquela prova de Educação Moral e Cívica, mas eu me lembro bem que foi a única vez em que você interviu, porque eu realmente estava muito mal da saúde e aquele professor foi meio maluco, mesmo, não deixando a criança doente ser avaliada em outra data (e eu adorava "EMC", porque você disfarçou bem sua contrariedade naquela ocasião)! Entretanto, não é possível não lembrar das vezes em que você não interviu, porque você me criou para RESPEITAR, às vezes amar e só questionar depois de MUITA reflexão , meus reais educadores! Lembro-me com facilidade que se eu tive percalços durante minha educação formal, exceto esse episódio com aquele professor, a culpa foi minha, e se eu criei o percalço, eu tenho que saber resolver e não gritar por seu colinho clamando que desautorize o educador para defender minha irresponsabilidade, negligência, omissão ou incompreensão! Difícil esquecer tudo isso!

E agora, mãe? Se nem você, sábia e serena depois de uma vida de luta árdua, consegue olhar para essa nação sem se revoltar por tanto potencial desperdiçado? Se nem você consegue mais dizer que “vai dar tudo certo no fim” ou que o pior tem limites, sim? E agora, mãe, depois de você ter me ensinado “filha, pense, antes de se desesperar, no quê de pior pode acontecer em função dessa situação. Você vai ver que o pior não é tão ruim assim e você consegue suportar até resolvermos”, eu ter aprendido e agora não conseguir mais saber nem qual o fim do pior de cada situação?

Agora eu peço perdão, mãe, porque eu parei de sorrir na volta! Peço perdão por estar fraca, covarde, mas não ter mais capacidade de amar esse lugar que você me disse que eu tinha que amar e eu amei tanto por tanto tempo!
Eu prometo que não joguei fora o que você me ensinou. Prometo que vou continuar mantendo o respeito porque isso eu não posso perder de maneira alguma! Pelo todo, pelos outros (por piores que me pareçam), pelo planeta, porque eu gosto bastante de respeito! Obrigada por isso, mãe! Eu gosto de gostar de respeito!

Gosto de respeito, mãe! Gosto muito! Não sei mais o que fazer com tanta falta dele por aí!
Não sei mais dormir tão pouco porque minhas tarefas obrigatórias se acumulam não necessariamente por culpa minha. Não canto uma música inteira fora do meu carro há três anos. Há um ano exato não consigo mais nem tirar meu violão novo da capa para tentar tirar uma nota. Não tenho mais a ânsia de ver tantos amigos maravilhosos que você tanto gosta que gostem de mim, rir com eles e distrair um pouco a mente, porque estou cansada demais para pensar em algo além de descanso físico e não mental. Não sei mais colocar um sorriso no rosto no lugar do fatalismo, para continuar agradecendo pelo que tenho e não lamentar pelo que me falta, porque falta muito mais a tantos outros. Não consigo mais fugir da indignação constante e disfarçar minha revolta diante de tanta falta de valor sólido, porque diluíram o que eu achava que era sólido e solidificaram aquilo que achávamos que fosse efêmero!

Eu sei que nossa casa, no âmbito de “Os três Porquinhos” era aquela de tijolos, que o lobo ia tentar derrubar soprando e não ia ser bem sucedido. Mas, mãe, eu te peço perdão porque nos últimos vinte anos, a sociedade que conhecemos esqueceu que “o lobo sopra” e que a casa tem que “ser de tijolos” para estarmos bem protegidos. Perceberam que é mais fácil ser lobo e ganhar no sopro, do que ser porquinho trabalhador e levantar a casa com tijolos. Eu ainda gosto de levantar a casa de tijolos, mas essa sociedade se convenceu de que correto é aquele lobo, e vilão é aquele porquinho! E eu não fui, absolutamente, preparada para isso!

Mãe, perdoa porque eu não consigo ir para sempre e te levar comigo. Ainda menos para aquele local onde cada flor desconhecida e colorida me levava de volta a você por um pensamento. Só consigo ir eventualmente e voltar com saudade de você e dos meus demais amores humanos. Não consigo voltar mais sorrindo.

Perdoa, mãe? Perdoa porque agora eu só sorrio quando penso em ir, e volto a chorar e me desesperar quando percebo que ainda sou obrigada a voltar? Perdoa sabendo que o amor de vocês é sempre uma lágrima a menos nessa volta, mas que a cada volta eu tenha mais lágrimas para chorar? E quando eu parar de conseguir ir, porque isso vai acontecer em breve e você sabe, perdoa porque eu vou chorar querendo ir?
Perdoa, porque eu vou  amar a você para sempre, mãe, mas não sei e não consigo mais amar esse Brasil a ponto de ter coragem, como você me ensinou, de ficar com esperança e lutando pela melhora para tantos?

Você também me falou sempre sobre os benefícios do perdão, mãe! Obrigada! Então, espero que você, sempre maior que eu, consiga perdoar o fato de eu não conseguir mais perdoar essa sociedade!

Perdoa, mãe?

Dolorida de fuga,


Filhinha de Papai (e de mamãe)