Um dia eu vi um jornalista escrever que o Rio era a Paris
dele. Aceito! Acho que a comparação foi sensacional!
Um milhão de escritores já escreveu suas comparações entre
Rio e São Paulo, as capitais, apenas elas. Também já abusei de minha fatia e
neste mesmo blog já fiz muito disso. O Brasil é assunto, suas duas maiores
capitais têm que ser também, é a consequência natural.
Paulistana, eu também fui apaixonada e já odiei,
gratuitamente, o Rio de Janeiro e, mais precisamente, os cariocas. Antes de ir
morar pelo Rio e ser apelidada de “paulistoca”, já que agora estou meio que na
metade do caminho. Desconheço São Paulo e começo a entender melhor o Rio, 6
anos depois de ter me mudado de um para outro.
Antes, contudo, durante 28 anos de vida em São Paulo, não
fiquei fora de frequentar o Rio com maior ou menor intensidade. Comecei a fazer
isso em meados de 1997. Era
preconceituosa! Não conhecia essa terra que me abriga, mas não me privava de
afirmar que não gostava dela. Para ouvir merecidamente que fui preconceituosa
porque amei quando comecei a frequentar, como visitante. Minha curtição era
arrumar um feriado prolongado e me despencar para um Rio de Janeiro onde eu era
muito bem tratada!
Mas vou voltar ao jornalista que escreveu “da Paris dele”.
Perfeito! Paris também é uma cidade lindíssima, ótima para passar tempo livre!
Tente conviver como estrangeiro legal e trabalhar com os parisienses e depois
conversamos a respeito. Assim é, na minha “paulistoca” ou paulistana cabeça, o
Rio de Janeiro. Paris caiu muito bem como comparativo.
A Zona Sul e alguns pontos da Zona Oeste (praia! Barra da
Tijuca, Recreio e área da reserva. Só!), além do Parque da Floresta da Tijuca,
que abrange sul e norte com sua imensidão de mata atlântica, são realmente
lindíssimos! Claro que não existe Zona Leste no Rio de Janeiro, pois ao leste
temos água. E mar é bonito até cheio de óleo. Mas o “grosso” de atrações
turísticas e locais que o pessoal gosta de fotografar e transformar em cartão
postal, está mesmo fincado na Zona Sul do Rio. Assim como estão os turistas.
Nunca encontrei turista estrangeiro na Avenida Brasil na altura da Penha, por
exemplo. Também nunca vi carioca conseguir chamar aquilo de bonito e
transformar em cartão postal com “cidade maravilhosa” embaixo. Mas toda cidade
que visitei no mundo me pareceu ser assim.
Mas aí entra mais ou menos o que eu acho duma idiotice sem
tamanho: conheço um sem número de moradores, nascidos e criados, da baixada
fluminense que se intitulam “cariocas”. Começa, então, meu problema com as
aulas de geografia do ensino fundamental: carioca não é o cara da capital? O
natural do município do Rio de Janeiro? Por mais perto que Duque de Caxias se
encontre, é outro município, ainda! E ali não tem que intitular as pessoas como
“fluminenses”, em alusão ao Estado? Era assim, pelo menos antigamente! Mas eu
encontro uma série de cariocas por aqui oriundos de Macaé, Campos, Queimados,
Nova Iguaçu...
E na “Paris brasileira”, o tratamento ao “estrangeiro” é bem
parecido com aquele oferecido na Paris francesa, mesmo: enquanto TURISTA, você
é bem vindo e ouvirá falar das maravilhas locais e do quanto gostam de ter você
por aqui. Naturalize-se e venha competir com eles no mercado de trabalho ou das
ideias, e você deixará de ser bem vindo bem rápido!
Volto ao assunto porque num dia desses mais uma amiga
paulistana saiu daqui horrorizada. Com quem? É, leitor! O problema, dessa vez,
não era desconhecido de Rede Social, não! Eram os meus AMIGOS. Extremamente sem
graça e desconfortável, minha tímida e educada amiga paulistana se viu obrigada
a me pedir para não mais juntá-la com aquela turma, porque foi muita grosseria
e ignorância para poucas horas.
E foi! Ignorâncias e grosserias com as quais EU, depois de 6
anos de residência, não me incomodo mais e não preciso mais ir chorando para o
colo da psicóloga para tratar. Mas não tem outro termo para definir, não! Vocês
se acham engraçados? Nós os achamos hostis! E não são vocês os grandes arautos
do “não temos preconceito”? O que vocês fizeram com ela no domingo foi o quê?
Cafuné? Eu podia defender? JAMAIS! Se eu saio em defesa dela, é contra mim que
vocês se voltam e transformam a minha vida num inferno bairrista!
Eis que eu, a “pregadora da honestidade”, sou obrigada a
confessar que hoje tenho amigos que me estranham por conta do meu sotaque.
Segundo eles, eu “carioquei”. Segundo meus próprios ouvidos também! Porque eu
acho mais bonito ser carioca do que ser paulista ou paulistano? Não! Porque eu
fui exposta a uma disputa eleitoral em 2012 e fui instruída, isso mesmo,
instruída a disfarçar e mentir a minha real origem, em função da rejeição
absurda por uma candidata a qualquer coisa com um “paulistês” acentuado! Eu não
podia ser candidata a vereadora sendo tão paulistana! Eu não posso ser
candidata a NADA que dependa de carisma nessa cidade com meu sotaque original.
E sim, eu já ouvi uma quantidade muito grande de impropérios apenas por conta
dum “r” diferente no fim de uma palavra!
Minha pele também não é mais a mesma. Fui “gasparzinho”, “lagartixa”,
“bicho de goiaba”, “folha de impressora”, em função do excesso de brancura
durante muito tempo. Para me adaptar à terra que me abriga, até a cor da pele
eu mudei para diminuir o desconforto. Sim, é desconfortável ser tratada como “estranha”
ou “forasteira” invasora antes mesmo de expressar qualquer opinião, apenas porque sua pele é um
pouco mais clara ou escura que a da maioria.
Hoje eu tenho amigos cariocas? Sempre tive! Ser carioca não
é falha de caráter e claro que não são todos a me tratar mal gratuitamente em
função de minha origem! Meu próprio marido teve coragem de me amar e se casar
comigo, com sotaque de paulistana “da goma” e tudo! Meu melhor amigo é um
carioca! Tenho outros amores muito amados por aqui. E generalizar alguma coisa
nunca vai dar certo nessa vida, mas este post é todo “geral”, não se doam
individualmente porque eu não tenho condição de escrever pessoalmente.
Bulliyng, né? Está na moda! Não se pode mais praticar!
Hum...certo! Mas vocês acham que bullying é diferente disso que vocês fizeram
no domingo e fazem comigo frequentemente? Agredir dizendo que são melhores
em tudo sempre que escutam que alguém é paulistano e vocês PODEM acabar com a
alma daquela pessoa, tentando convencê-la de que a cidade que onde ela vive,
trabalha, ama e sofre, só tem gente ruim e aspectos ruins? É! Bullying é pouco,
mesmo! Vocês deveriam ter esse tipo de conduta descrita direto no Código Penal,
mesmo, como tortura psicológica! Porque só eu paguei mais de dois anos de terapia para
conseguir sair na rua sem chorar! Vocês foram, inclusive, covardes! Porque
estavam e sempre estão em franca maioria e não nos dão a chance para qualquer
resposta! Tampouco para debate educado, porque admita carioca, que você não
está nem aí para o nível de educação quando você se senta na mesa do bar!
Sim, o paulistano é chato! É, sim! O paulistano não vai
aturar a completa falta de educação daquele garçom que esqueceu que precisa do
cliente para ganhar o salário dele e trata MAL ao cliente porque ele acha que
só a presença dele já é um presente de Deus para a humanidade! Sim, aquele
garçonzinho “espetaculoso” que fica fazendo biquinhos e mais biquinhos e
olhando de cara feia para os clientes, esbarrando de cara feia em cliente, além
de atender mal, morreria de fome na cruel São Paulo! Porque em São Paulo é o
cachorro que abana o rabo, e não o contrário! E não, eu não estou praticando “apartheid
social” como vocês estão gostando de dizer nos últimos 2 anos. Eu estou apenas
mostrando o óbvio, porque quando você vai a Paris, carioca, você não quer um
abusadinho parisiense rosnando gratuitamente para você quando você é apenas um
cliente consumidor que garante o ganha pão dele! Se o francesinho fizer esse
tipo de coisinha com você, carioquinha querido, você vai voltar de viagem PUTO!
Também recentemente, escuto do amigo carioca que os garçons
do Rio de Janeiro são ridículos! Que se acham onipotentes e realmente servem
mal! Exceções à parte, concordo de novo! E quanto menos nordestino e mais
natural do Rio o garçom for, pior será o tratamento oferecido ao cliente.
Acham-se deuses sagrados apenas por terem nascido numa cidade bonita. SÓ! Vinicius
de Moraes fez um mal imenso às cabeças de vocês, que fazem questão de esquecer
que ele era um vagabundo bêbado que não tinha um pingo de respeito por mulher.
E é isso, carioca, que você tem de “melhor” do que o resto
do Brasil: vista pro mar! Sua cidade está caótica, seus serviços absolutamente
não funcionam, sua gente está violenta, seus transportes públicos estão
precários, sua segurança pública não existe e você está perdendo o seu turista
também. Sabe por que? Porque Cristo Redentor, Pão de Açúcar e praia fedorenta
não sustentam ninguém! Você vive de turismo mas não é capaz de fazer um
cursinho de inglês básico! Só que você esqueceu que não é mais capital do país
há muito e também esqueceu que não vivemos mais na monarquia portuguesa. E eu
ganho de vocês onde? Na hora de ser contratada! Porque até vocês são obrigados
a admitir que eu sou boa nisso: trabalhar! Sério que você acha isso bonito?
Deixar o trabalho duro para o resto do país porque você tem necessidade de
curtir sua Natureza querida? Acha justo?
São Paulo, por sua vez, é uma grande terra de filhos da
p...piii! Sim, é! O mercado de trabalho paulistano é cruel, extremamente
segregador, excessivamente técnico e bem pouco HUMANO. O modelo ali também não
é o melhor dos mundos nem passa perto disso. Cansei de ver colega de trabalho com planilha de Excel
aberta sem preencher uma célula com dados, apenas para mostrar ao chefe que
gostava de fazer hora extra não remunerada. Cansei de ver! Cansei de sofrer
preconceito e represália porque eu era chegada num chopp pós expediente. Se eu
deixava “rabo”? Trabalho por fazer? Não! Nunca deixei! Mas São Paulo constrói “panelas”
e se você entrar numa panela de gente que não é fã do choppinho ou do mesmo bar
que você escolheu para tomar o seu, correrás o risco de ser demitido por isso.
Licença médica? Precise de três no mesmo ano e você também será demitido. São
Paulo não te dá espaço nem para adoecer, embora a cidade favoreça bastante a
criação de uma série de doenças que você nem imaginava que podia ter. Mas se for para faltar ao trabalho, melhor que sua doença seja bem grave e você esteja absurdamente mal, caso contrário, vais cavar sua demissão. Se morrer parente também não pode chorar por mais que 10 minutos.
O paulistano também não é dos mais sensíveis e solidários.
Uma amiga paulistana reclamou, certa vez, que um sujeito teve uma convulsão
dentro de um ônibus metropolitano e foi pisoteado pelos passageiros que queriam
saltar em seus pontos. Não duvido nem um pouco! O paulistano geralmente está
tão focado no próprio sapato e relógio que nem vê se EXISTE próximo! Quanto
mais pensar em ajudar! Aqui, se um trombadinha te leva os pertences, o morador
vai, sem polícia, ele mesmo e sozinho, pegar o trombadinha para você ter seus
bens de volta. Em São Paulo? Duvido MUITO que um negócio desse aconteça!
Do céu daqui ou do inferno de lá, eu, que “pulei a cerca à
prova de coelho”, posso dizer que nenhum dos dois modelos me serve. Hoje amo
poeticamente a “minha São Paulo” porque os primeiros 28 anos (quase 29) de minha vida
foram vividos lá e hoje eu tenho até um olhar poético até sobre os piores
defeitos. Saudade faz isso com a gente. Mas não posso negar a crueldade da vida
paulistana nem dizer que a cidade está tomada de romantismo. Entretanto, também
não carrego um pingo de orgulho associado ao Rio de Janeiro.
Aqui, na terra do “não preconceito” é onde eu venho sofrendo
mais dos piores. Depois de ser discriminada pelo sotaque, também já fui
condenada por ser caucasiana, por ser mulher, por ser hétero, por morar na Zona
Sul (terra de rico, embora haja favela, ou comunidade, também na Zona Sul) principalmente
e com mais crueldade pelo viés político e frequentemente por ser “escrota”. Se
eu não visto a roupinha de “miss simpatia” todo santo dia antes de levantar da
cama e, em vez disso, apenas me limito a ser uma introspectiva e reservada
cidadã parecida com um modelo de outro lugar, sem ficar discursando coisinhas
engraçadas para cada pessoa que se dispuser a trocar uma palavra comigo, serei
hostilizada. Fui hostilizada. Isso não é gostoso e eu achei a minha defesa:
fingir ser “menos paulistana” ou coisa parecida.
Gostaria que você repensasse, carioca, o seu comportamento de domingo. Coloque-se no
lugar da menina mais nova, tímida, reservada, chegando à mesa sem conhecer a
maioria das pessoas ali, sem ofender a ninguém, toda educada e cheia de boas
intenções, e veja se você gostaria de estar no lugar dela! Por mais “maneiro”
que você PENSE que foi!
Brincadeira de verdade não tem competição babaca.
Brincadeira de verdade não desmerece o que o outro ama. Brincadeira de verdade
é sem ofensa! Você estava realmente brincando com ela, Rio de Janeiro?
Não, você não estava e não está brincando! Você gosta de
brincar com outras coisas, mas o paulistano você odeia de verdade! E eu vou
encher a boca pra expressar a minha sincera opinião agora: odeia porque inveja!
Do caos que ainda tem organização, da cidade que não pára para nada, do Estado
rico, da chuva que cai em quase todos os dias do ano mas não mata ninguém, não
alaga a cidade inteira em cinco minutos e não tira pedaço da mão do Cristo
Redentor. Do “dá licennnça” que você se cansa de citar em tom de deboche, mas
não sabe usar! Da resistência a tudo e qualquer coisa que um paulistano tem que
ter para sobreviver!
Você é maneiro e gentil no discurso, carioca. Mas é uma
mulher traída na hora de tratar seus vizinhos! Aquela mulher que enxerga em
todas as outras mulheres uma inimiga e em todos os homens um canalha.
Quando você vai sozinho até a mesa do bar, carioca, por mais
que seu “s” seja substituído por “x” e por mais que você modifique um “r” no
seu característico sotaque consequente da maioria portuguesa, você não vai ser
hostilizado e mal tratado como fez com minha jovem amiga. A você ainda será
permitido que fale, muito, muito mal de São Paulo. Você vai ser considerado um
chato, depois, mas ninguém vai te causar metade do desconforto que nos é
causado aqui gratuitamente.
Porque você é engraçadinho e o paulistano é chato, carioca?
Também! Mas também porque nossa Educação foi dada para aceitar que as cidades
são construídas e mantidas por todos, venham eles de onde vierem, e que nós,
habitantes ou ex de São Paulo, dependemos de todo mundo para o funcionamento de
nossas próprias vidas. Mas você me disse que quer pão e não educação, carioca.
Gratuitamente, vai me fazer chorar de desgosto e mágoa até
quando, “cidade maravilhosa”?
Educadamente,
Filhinha de Papai